No contexto das celebrações dos 50 anos da independência nacional, que se assinalam no próximo dia 25 de Junho, o Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, recebeu jornalistas no seu gabinete para uma conversa franca e extensa. Em cerca de uma hora e quarenta minutos, o Chefe de Estado fez um balanço dos seus primeiros cinco meses de mandato, abordando temas como economia, combate à corrupção, reformas institucionais e a situação de segurança em Cabo Delgado.
Durante o encontro, Chapo reforçou sua visão de independência económica para Moçambique, sustentando que os rendimentos do sector extrativo devem ser canalizados para dinamizar áreas como a agricultura, indústria, turismo, energia e infraestruturas, diversificando assim a base económica do país.
“O maior desafio neste momento é a economia. Temos recursos provenientes, sobretudo, da indústria extrativa, mas precisamos usá-los para impulsionar outros sectores produtivos e reduzir a nossa dependência”, declarou o Presidente.
“Não estou sob pressão”
Ao ser questionado sobre possíveis pressões políticas ou económicas, Daniel Chapo negou categoricamente, afirmando estar “super à vontade” para governar com autonomia, principalmente no que diz respeito ao combate à corrupção, um dos pilares do seu mandato.
“A corrupção é um veneno para a sociedade. Corrói as finanças públicas, mina a confiança nas instituições e impede o desenvolvimento. Por isso, combatê-la é a nossa missão”, afirmou.
Chapo aproveitou para destacar a criação do Gabinete de Reformas e Projectos Estratégicos, liderado por João Machatine, como prova do seu compromisso em “fazer diferente para alcançar resultados diferentes”. Segundo ele, este novo organismo tem como foco remover os entraves ao ambiente de negócios e conduzir uma reforma profunda do Estado.
Segurança e diálogo em Cabo Delgado
Sobre a instabilidade em Cabo Delgado, o Presidente reiterou que o combate ao terrorismo continua a ser uma prioridade máxima do governo, mas abriu a porta para o diálogo com os insurgentes, caso haja condições estruturadas, tal como aconteceu no passado com a Renamo.
“Num conflito, é essencial atuar em duas frentes: militarmente e com abertura para o diálogo. Já conseguimos isso no passado e estamos dispostos a explorar novamente esse caminho, desde que haja uma liderança clara entre os insurgentes”, explicou.
Tropas estrangeiras e a questão das dívidas
Chapo também comentou sobre as notícias veiculadas pelo portal Africa Intelligence — e republicadas pela Carta de Moçambique — que apontam supostas dívidas de Moçambique às tropas ruandesas, estimadas entre 2 a 4 milhões de dólares mensais desde agosto de 2024.
“Houve um mal-entendido entre as partes, mas já está resolvido”, garantiu o Presidente, sem adiantar prazos para a retirada das tropas do Ruanda e da Tanzânia, destacando que tal decisão depende da evolução do conflito.
“A situação no terreno é instável. Às vezes os ataques diminuem, e há a sensação de que tudo está sob controlo, mas o inimigo pode estar apenas a se rearticular. Tomaremos decisões com base nessa dinâmica”, concluiu.