Burkina Faso e Ruanda Proíbem Roupas Usadas e Produtos de Clareamento da Pele: África Reage Contra “Importações Tóxicas” do Ocidente

Última Hora — Países africanos estão dando passos ousados para proteger sua identidade cultural, saúde pública e autonomia econômica. Burkina Faso e Ruanda tomaram medidas severas contra a importação de roupas usadas e produtos de clareamento da pele, em resposta ao impacto negativo dessas práticas sobre suas populações e economias locais.

Fim das roupas de segunda mão em Burkina Faso

Burkina Faso oficializou a proibição da entrada de roupas usadas em seu território. Segundo o governo, essa medida busca valorizar a produção local e romper com uma dependência histórica de vestuário descartado por países ocidentais. As peças, geralmente oriundas dos Estados Unidos e Europa, chegam a África como doações ou itens de reciclagem, mas são revendidas em massa e acabam sufocando a indústria têxtil local.

“É hora da África vestir o que é africano”, foi o lema utilizado por autoridades de Ouagadougou ao justificar a decisão. A medida foi bem recebida por setores da juventude e defensores da moda africana, que veem a mudança como um passo importante para o fortalecimento da autoestima e da economia interna.

Cosméticos de clareamento são alvo em Ruanda

Enquanto isso, Ruanda reforçou sua posição contra cosméticos de branqueamento da pele, proibindo mais de 130 produtos que contêm substâncias químicas altamente perigosas, como hidroquinona, mercúrio, corticosteroides e retinoides. Esses produtos, amplamente utilizados em diversos países africanos, têm sido associados a sérios riscos à saúde, incluindo danos hepáticos, renais, hipertensão, cegueira e até câncer de pele.

A decisão veio diretamente do presidente Paul Kagame, que criticou abertamente o uso de clareadores, classificando-os como uma prática “não saudável”. Em resposta, as autoridades ruandesas intensificaram as apreensões de produtos ilegais, com milhares de unidades confiscadas em operações recentes.

Uma nova narrativa para o continente

Essas iniciativas fazem parte de um movimento crescente em vários países africanos para reconquistar o controle sobre seus mercados e padrões de consumo. Além de Burkina Faso e Ruanda, países como Quênia, África do Sul e Gana já começaram a adotar legislações similares, tanto para limitar a entrada de roupas descartadas quanto para combater o uso de cosméticos prejudiciais.

Estima-se que os Estados Unidos exportem mais de 700 mil toneladas de roupas usadas todos os anos — grande parte destinada a nações africanas sob o pretexto de caridade ou sustentabilidade. No entanto, essas exportações muitas vezes prejudicam a produção têxtil local e promovem uma cultura de dependência.

Além disso, mais de 70% das mulheres nigerianas admitem já ter usado clareadores de pele — uma estatística alarmante que revela a influência profunda de padrões de beleza eurocêntricos enraizados pelo colonialismo e reforçados pela indústria de cosméticos.

Reflexão: saúde, identidade e soberania

As decisões tomadas por Burkina Faso e Ruanda vão além de políticas comerciais. Elas representam uma rejeição clara à colonização cultural contemporânea e um movimento em direção à soberania estética, econômica e sanitária. Ao proibir produtos que ferem a saúde e minam a cultura local, esses países enviam uma mensagem forte: a África quer definir seu próprio futuro — a partir do que veste e de como se vê.

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